Por Diego Barreto, Vice-Presidente de Finanças e Estratégia do iFood

Foto de Diego Barreto

Você já ouviu falar em Nova Economia? Em poucas palavras, pode ser descrita como o conceito capaz de reunir empresas tradicionais, startups e indivíduos, formando ecossistemas que levam a progredir para uma nova fase de desenvolvimento do país. É o modelo de negócio que promove a inovação, sustentada pela gestão ágil, com hierarquia mais flexível, times diversos e compromisso com posicionamentos modernos, como diversidade, inclusão e sustentabilidade.

Os ventos de imensas mudanças sopram para todos. O tempo futuro que se prefigura começou a ser esboçado quando a sociedade em que vivemos tornou-se global e conectada, graças a uma combinação de evolução tecnológica e revolução comportamental e cultural.

As fronteiras nacionais deixaram de ser limites para trocas comerciais e financeiras. 

Os processos produtivos seguiram o mesmo curso, dispersando-se por diversos países, cada vez mais de forma digital.

É por isso, por exemplo, que a Holanda, player tradicional no mercado internacional de flores, desenvolve novas variedades sob demanda de varejistas dos Estados Unidos e as cultiva no Quênia.

Várias empresas e diversos países entram na cadeia de valor digital de produtos e serviços. 

Em 2020, 20% dos líderes da cadeia de suprimentos global acreditavam que o fornecimento de suprimentos já se dava predominantemente pelo meio digital e 80% esperavam que esse modelo se tornasse predominante em cinco anos, segundo o MHI Annual Industry Report 2020.

O nascimento da Nova Economia

A globalização, movimento que afetou todos os aspectos da vida contemporânea, e o contínuo desenvolvimento tecnológico possibilitaram o surgimento de um novo ambiente.

De estratégias empresariais disruptivas à completa reviravolta no mundo do trabalho, a tecnologia permitiu ao empreendedorismo individual desempenhar um papel fundamental na construção de um novo modelo econômico, em que uma boa ideia – e um investidor – são suficientes para iniciar um negócio. E ele pode se tornar maior – muito maior – do que qualquer Ford.

Podemos transferir informações ao redor do planeta pela internet.

Podemos armazenar dados na nuvem sem precisar comprar um servidor próprio para isso. 

Podemos usar as APIs (Application Programming Interfaces) para compartilhar características de um sistema complexo com outro sem precisar gastar tempo e recursos com reprogramações.

A ultraconectividade nos aproximou e nos deu a possibilidade de obter, tratar e analisar um número extraordinário de informações para tomar decisões.

É nesse ambiente que se estabelece a Nova Economia, movida pela paixão e pelo empenho de empreendedores em criar modelos de negócio baseados na conexão entre pessoas e instituições (públicas ou privadas).

O fator que determina o sucesso é a capacidade de cada um desenvolver tecnologia proprietária, recurso que permite integrar cadeias de valor para ganhar vantagem competitiva e alcançar um nível de escalabilidade com o qual as empresas da Velha Economia nem ousam sonhar.

O maior acesso à internet, por exemplo, coloca em xeque modelos de negócios físicos ao permitir, por exemplo, que os gastos com comércio eletrônico quase dobrassem de 2014 a 2019.

Nova Economia no Brasil

Da visão desses empreendedores está nascendo um Brasil capaz de competir globalmente e apto a oferecer soluções novas para problemas que há muito dificultam a vida dos brasileiros.

Se a globalização e a conectividade em massa são fatores que possibilitaram a existência dos novos negócios, é o compromisso de fazer diferente que lhes permite crescer. 

A transformação nos mercados é frenética. Como ficará essa transformação diante do avanço da Nova Economia?

A pandemia chegou impondo uma mudança de hábito que já se mostrava inexorável. Sendo assim, o que estão esperando os gestores à frente das grandes cadeias para inovar?

Não há respostas fáceis, mas falta pressa a muita gente. A tecnologia não só estimula e propicia o nascimento de novas empresas, mas também obriga as antigas a se mexerem. 

Como as organizações ligadas à educação estão se preparando para não ficarem obsoletas e oferecerem aos alunos uma experiência de aprendizado melhor e mais adequada a um mundo em constante mutação? Cursos presenciais e muito longos devem perder espaço para os mais curtos e disponíveis em canais digitais.

Esse é o momento ideal para empreendedores brasileiros “abraçarem de vez” o conceito da Nova Economia e largarem na frente da concorrência.

Um dos passos indispensáveis para isso são os investimentos em tecnologia proprietária. 

Embora ela não irá, de forma alguma, sanar as décadas de atraso do Brasil em relação aos outros países, certamente ajudará a diminuir o gap e colocar o país na rota correta.

Outro passo importante é tornar nossa economia menos engessada e mais dinâmica. 

Muitas empresas da Velha Economia vêm tentando se adaptar e dar esse salto em direção à Nova Economia – ou seja, deixando de lado a atuação alicerçada em barreiras de entrada que impedem a entrada de outros competidores e adotando o conceito da disrupção digital, que leva à transformação do modelo de negócio a partir da convergência de múltiplas tecnologias.

No momento em que a transformação digital acontece, a empresa acaba, naturalmente, alterando seu modelo de gestão, sua cultura empresarial e, por fim, sua estratégia.

Esses três fatores juntos – maior competitividade, inovação a partir de investimentos em tecnologia proprietária e expansão da produtividade – são a “chave” para o Brasil finalmente passar a trilhar o caminho do crescimento sustentado e inclusivo.

Isso dará mais oportunidade ao surgimento de novas startups e, quem sabe, um maior número dos tão desejados unicórnios (unicórnio é o nome dado a startups avaliadas em mais de U$ 1 bilhão), o que permitirá que mais brasileiros tenham acesso à tão necessária mobilidade social.

As organizações – sejam brasileiras ou estrangeiras – que não se adaptarem a esses novos conceitos correm alto risco de verem seus negócios naufragarem em pouco tempo.

Não se pode esquecer que cerca de 1 milhão de companhias fecham as portas todos os anos, mesmo antes da pandemia. 

As empresas que insistirem no velho modelo de gestão dos negócios muito dificilmente terão sobrevida.

Autor do best seller “Nova Economia”, Diego Barreto é Vice-Presidente de Finanças e Estratégia do iFood. É também mentor na Endeavor e na 500 Startups, além de atuar a favor de startups em diferentes países e como conselheiro de empresas da Velha e da Nova Economia. Formado em Direito na PUC/SP, possui um MBA pelo IMD Business School, na Suíça, e foi executivo sênior da Movile e da Suzano Papel e Celulose. Atualmente é Colunista MIT Technology Review Brasil.
 
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