Por Yuri Storch, especialista em Estratégia de Alocação 

O dinheiro que usamos no dia a dia para comprar um pãozinho, pagar o aluguel e sair para jantar é conhecido como dinheiro fiduciário, e não possui valor intrínseco, ou seja, o que ele vale é com base exclusivamente na fidúcia (confiança) que as pessoas têm na sua validade e usabilidade. E esse pacto é mantido pela credibilidade do sistema financeiro e pela estabilidade econômica do país emissor da moeda. 

Não por acaso, em inglês, tanto o verbo confiar como o termo fiduciário, em algumas situações, compartilham do mesmo vocábulo: trust. Esse termo aparece também em alguns ativos financeiros, como nos REITs (Real Estate Investment Trust) e nos investment trusts. 

Dessa forma, muitos dos alicerces que sustentam o sistema financeiro são baseados na credibilidade dos seus agentes e na confiança mútua entre eles. E tivemos ao longo da história diversos casos de pessoas que buscaram tirar proveito dessa confiança: podemos citar desde Charles Ponzi, passando por Bernie Madoff até chegar aqui, em terras brasileiras, com o caso da TelexFree, dentre outros mais recentes.  

Por vezes, os casos envolveram instituições sérias e competentes, que buscavam executar suas ações dentro dos limites da lei, mas que, por um momento de desconfiança por parte dos seus clientes e de outros agentes, viram tudo ruir. 

Cenário Externo: crise de confiança no sistema bancário  

Em março, observamos alguns eventos nos quais a credibilidade foi abalada, culminando no colapso de grandes bancos. 

Nos Estados Unidos, o Silicon Valley Bank (SVB), instituição especializada em startups com mais de US$ 200 bilhões em ativos, sofreu uma “corrida bancária” que levou à sua falência em poucos dias.  

O banco possuía em seu balanço diversos títulos adquiridos no período em que a taxa de juros americana estava baixa. Com o aperto monetário executado pelo FED nos últimos meses, esses títulos se desvalorizaram significativamente. Conforme a liquidez do mercado secava, os clientes do SVB começaram a realizar saques para manterem suas atividades, forçando o banco a vender esses títulos com prejuízo. 

No dia 8, o SVB anunciou um prejuízo bilionário com esses papéis e que, por esse motivo, planejava vender suas ações. No dia 9, as ações despencaram de valor e a confiança/credibilidade no banco se dissipou, fazendo com que os clientes corressem para sacar seus depósitos. No dia 10, a instituição já havia quebrado. 

Temendo um contágio no sistema como o ocorrido em 2008, as autoridades americanas agiram rapidamente e garantiram os depósitos dos clientes no SVB. 

Na semana seguinte, foi a vez do Credit Suisse, o segundo maior banco da Suíça. Embora também tenha sofrido com os apertos monetários, a crise de confiança nessa instituição já vinha de outros anos, com prejuízos recorrentes e algumas decisões não acertadas.  

A gota d’água veio com um reporte de que existiam “fragilidades” em alguns de seus relatórios anteriores. Foi o suficiente para secar as últimas gotas de confiança que seus clientes e investidores ainda tinham no banco. Como aconteceu com o SVB, as autoridades suíças agiram com rapidez para providenciar liquidez e segurança ao sistema, impedindo um contágio generalizado. 

Mesmo com esses acontecimentos, os bancos centrais continuaram suas sequências de apertos: o FED aumentou a taxa de juros em mais 25 bps para a faixa de 4,75% a 5,00% ao ano, e o ECB (Banco Central Europeu) decidiu por mais um aperto de 50 pontos base.  

Parte do mercado havia criado a expectativa de que os bancos centrais segurariam os apertos nesse mês por causa da crise bancária. Isso foi refletido na queda abrupta que os títulos do governo americano de 2 e de 10 anos sofreram. No entanto, os dados de inflação e de emprego, ainda muito resilientes, fizeram com que o ciclo de alta não fosse interrompido neste momento. 

O S&P 500 acabou se beneficiando desses acontecimentos, pois a queda dos títulos do governo americano tornou mais positiva a expectativa em relação aos ativos de renda variável. O índice fechou o mês com um retorno positivo de 3,51%. Situação similar ocorreu na Europa, onde o MSCI Europe fechou com retorno de 1,96%. 

Cenário Interno: impactos de fora e novo marco fiscal 

Por aqui, sentimos os efeitos desses movimentos externos na curva de juros, que fechou significativamente na primeira quinzena do mês, colocando ainda mais pressão sobre o Banco Central para a reunião do Copom do dia 22. No entanto, o Comitê decidiu, mais uma vez, manter a Taxa Selic em 13,75% ao ano. Vimos, também, uma saída significativa de capital estrangeiro da bolsa brasileira, sinalizando uma busca por ativos menos voláteis. 

Mais para o final do mês, o tão aguardado arcabouço fiscal foi anunciado. Foram apresentadas as principais regras e objetivos, mas o texto com os detalhes mais específicos da proposta não foi divulgado e deverá, ainda, ser debatido no Congresso. No dia do anúncio, o mercado reagiu de forma muito positiva, com a bolsa subindo significativamente. No dia seguinte, entretanto, conforme os analistas digeriam melhor a proposta, muito ganhos do dia anterior foram devolvidos. 

A bolsa acabou fechando o mês com um retorno negativo de -2,91%. Os ativos de renda fixa desempenharam melhor, se beneficiando do fechamento da curva: o IRF-M fechou com alta de 2,15%, e o IMA-B com 2,66%. 

Como ficam as carteiras em abril? 

Para o próximo mês, realizamos duas alterações nas carteiras sugeridas. Nas sugestões de alocação em classes de ativos, aumentamos a exposição em ativos prefixados, retirando este percentual da classe de pós-fixados. Embora todos os pontos e detalhes do novo marco fiscal ainda não tenham sido definidos pelo Congresso e as expectativas para a inflação deste ano ainda estejam acima da meta, há agora um pouco mais de clareza em relação aos rumos do cenário fiscal e da política monetária. 

Estamos, também, realizando a troca de um dos produtos sugeridos: no lugar do BB Tesouro Inflação Curta, sugerimos o BB Tesouro Inflação. O primeiro, que se aproveitou muito bem do fechamento da curva nos vértices mais curtos neste primeiro trimestre, entregou um retorno de 4,29% no ano. Para os próximos meses, entendemos que o BB Tesouro Inflação, que possui uma composição com títulos de diversos prazos, pode se beneficiar mais dos movimentos macroeconômicos nos próximos meses. 

Confiança na jornada 

Como bem escreveu Carlos Drummond de Andrade em seu poema (oportunamente) intitulado Confiança: 

“Não te rendas que a vida é isso,  
Continuar a viagem,  
Perseguir seus sonhos,  
Destravar o tempo,  
Correr os escombros,  
E destapar o céu.”   

Na vida, nos relacionamentos e nos investimentos temos sempre que nos atentar em que depositamos nosso tempo, nosso amor, nosso dinheiro e, também, nossa confiança. A vida nos exige isso. Aprendemos com os seus percalços e ajustamos as rotas para seguir viagem. 

Para auxiliar nessa jornada, o BB, que conta com mais de 200 anos de história de solidez e credibilidade, disponibiliza um time de gerentes e especialistas que orientam seus clientes e investidores. Desejamos a todos um excelente mês de abril.  

Um forte abraço. 

Yuri Storch* 

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