Por Yuri Storch, especialista em Estratégia de Alocação

Em uma de suas fábulas mais famosas, Esopo traz uma reflexão sobre a importância do trabalho e de se preparar para o futuro. No conto, temos a cigarra, que aproveita a abundância do verão para viver cantando e se divertindo, enquanto a formiga trabalha arduamente, armazenando alimentos para o inverno que está por vir. Quando este finalmente chega, a cigarra, agora faminta e sem abrigo, procura a ajuda da formiga. 

Embora simples, a moral da história é valiosa, e pode ser aplicada aos nossos investimentos. A preparação, a disciplina e o planejamento são de suma importância para compor uma carteira resiliente que aguente qualquer inverno. E, dessa forma, devemos buscar nos planejar para todos os momentos.  

Vamos agora avaliar os principais acontecimentos de maio, nos cenários interno e externo, e apresentar as alterações nas recomendações para junho. 

Copom sem novidades, inflação cedendo e arcabouço encaminhado 

Iniciamos o mês com a decisão do Copom de, mais uma vez, manter a taxa de juros em 13,75% ao ano, conforme amplamente aguardado pelo mercado. No decorrer do mês, entretanto, tivemos boas notícias no cenário doméstico que podem influenciar as próximas reuniões do comitê. 

O IPCA de abril registrou uma variação positiva de 0,61% no mensal, acima das expectativas do mercado, mas na janela de 12 meses fechou em 4,18%, o que o coloca dentro dos limites estabelecidos pelo sistema de metas. Outros indicadores como o IGP-M e o IPCA-15 de maio vieram abaixo das expectativas, reforçando o arrefecimento da inflação. 

Na esfera política, a Câmara aprovou o PLP 93/23, também conhecido como o Novo Arcabouço Fiscal, tornando mais clara algumas perspectivas em relação ao cenário macroeconômico doméstico. Esses acontecimentos contribuíram para o fechamento da curva de juros, principalmente nos vértices mais longos. 

Os mercados reagiram de forma positiva: o Ibovespa registrou alta de 3,74% no mês, e o IFIX, principal índice de referência dos fundos imobiliários, subiu 5,43%. A renda fixa também apresentou bons retornos, em especial os índices que se beneficiaram com o fechamento da curva de juros. Destaque para o IMA-B 5+, que teve uma variação positiva de 4,13%; e para o IDA-Geral, que, com um retorno de 2,31%, teve seu primeiro mês acima do CDI no ano. 

Teto da dívida, política monetária e contraofensiva 

No cenário externo, o mês não foi tão positivo assim. 

Nos EUA, o principal tema em voga foi a discussão em torno da renegociação do teto da dívida. Embora esse tenha sido renegociado inúmeras vezes ao longo das últimas décadas, desta vez o mercado temia em relação à possibilidade de o Congresso não conseguir chegar a um acordo até a data-limite. 

Houve também decisões dos comitês de política monetária no início do mês, nas quais tanto o FED quanto o Banco Central Europeu decidiram por mais um aperto de 25 bps. A taxa de juros na economia americana atingiu a faixa de 5,00% a 5,25%, e havia a sinalização de que esse poderia ser o último aperto deste ciclo. No entanto os dados divulgados em relação à inflação, ao emprego e à atividade econômica mostraram que a economia americana continua resiliente, o que pode influenciar na próxima decisão do FED.  

Na Europa, além dos dados de inflação e atividade também mostrarem sinais de que a economia ainda está acelerada, ganhou destaque a contraofensiva no conflito no leste do continente, que pode trazer mais impactos geopolíticos e econômicos para as nações europeias. 

As bolsas reagiram de forma negativa a todos esses acontecimentos: o MSCI ACWI, índice de referência global, fechou o mês com uma variação negativa de -1,32%, fortemente influenciado pela expressiva queda -6,52% do MSCI Europe. O S&P 500 apresentou forte volatilidade ao longo do mês, entretanto conseguiu fechar o período no positivo, com um retorno de 0,25%. 

Como ficam as carteiras em junho? 

Para junho, realizamos uma alteração: elevamos a exposição nos ativos de crédito privado em todas as quatro carteiras. O percentual equivalente será retirado da classe de pós-fixados. 

Após alguns eventos negativos para os ativos de crédito privado no início do ano, que rebaixaram os ratings de algumas empresas e induziram títulos a negociarem com spreads maiores, começa a se desenhar um cenário com mais oportunidades para essa classe. Com maior clareza em relação aos direcionamentos fiscais e monetários da economia e preços atrativos de entrada, entendemos que é possível buscar melhores retornos aumentando um pouco a exposição a esses ativos. 

Mantemos ainda as alterações táticas realizadas nos meses anteriores, com maior posicionamento nas classes de prefixados, ainda devido aos movimentos da curva de juros, e a uma exposição reduzida nos ativos de renda variável no exterior, por causa dos apertos monetários e da possibilidade de recessão. 

Em relação aos produtos sugeridos, alteramos a indicação de um dos fundos de renda variável, introduzindo o BB Ações Ibovespa Ativo no lugar do BB Ações Seleção Fatorial. A troca busca capitalizar em cima das características específicas dos fundos: enquanto o Seleção Fatorial tinha maior potencial de atuação em um cenário mais incerto e volátil, o Ibovespa Ativo pode se beneficiar de forma mais positiva num cenário mais claro e, possivelmente, direcional. 

Além desses, para aqueles clientes que buscam um diferencial na personalização da carteira, incluímos a sugestão do BB Espelho Ações Trígono Delphos, que é especializado em investir em ações de empresas com histórico consistente de distribuição de dividendos e com potencial para valorização no longo prazo. 

Menos cigarra, mais formiga 

A formiga da fábula entendeu a importância da antecipação dos movimentos, e se preparou de acordo para o inverno. Como ela, devemos buscar prever esses movimentos de economia para buscar as melhores oportunidades. O mercado tende a precificar os principais acontecimentos com antecedência.

No final do conto, não há um desfecho se a cigarra chega a receber a ajuda da formiga, mas podemos inferir que, pela sazonalidade das estações, ela deve ter aprendido a lição e poderá se preparar melhor no próximo verão. A economia também se movimenta em ciclos, e podemos observar alguns eventos que se repetem. Nunca é tarde para começar a investir, e a cada ciclo aprendemos algo novo que poderá ser aproveitado no próximo. 

Com o objetivo de auxiliar nessa jornada, o BB disponibiliza um time de gerentes e especialistas para orientar seus clientes e investidores. Desejamos a todos um excelente mês de maio. 

Um forte abraço e um excelente mês de junho. 

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