Cris Hoffmann Mulher, mãe, especialista em investimentos e em diversas outras coisas aleatórias.

Cris Hoffmann

Existe uma pesquisa da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), chamada Raio-X do Investidor Brasileiro, que é publicada anualmente e que compartilha dados sobre as finanças da população, de acordo com idade, classe social, localização geográfica e escolaridade, entre outros critérios.

Essa pesquisa, em sua edição 2023, mostrou como a população vem lidando com suas finanças após o período mais crítico da pandemia. Ela mostra que mais brasileiros conseguiram economizar e começaram a investir, e embora a participação masculina ainda seja maior, o percentual de mulheres investidoras também cresceu em relação ao ano anterior. Quanto ao perfil de risco, homens e mulheres ainda se mostram bastante conservadores, e as mulheres pareceram um pouco mais resistentes do que os homens quando se fala de ativos diferentes da poupança. No BB, 46% das investidoras possuem perfil moderado.

Mas será que é isso mesmo?

A gente já falou aqui no Blog BB sobre o perfil de investidor. Mas hoje eu quero ressaltar que nós somos muito mais do que simples caixinhas Conservador, Moderado, Arrojado e Agressivo.

Existe uma ideia equivocada, um preconceito coletivo, de que ser arrojado é bom e ser conservador é ruim. Ser conservador é associado a algo ultrapassado, superado, fora de moda, enquanto ser arrojado remete a ser moderno, ousado, diferentão, quando não é nada disso. O perfil de investidor é somente uma “foto” daquele momento da sua vida, mas resume demais algo que é muito mais complexo e cheio de nuances.

Ser conservador, por exemplo, significa que você não pode (ou não quer, ou não se sente confortável em) assumir determinado nível de risco neste momento. Talvez por preferência pessoal, você até buscaria uma emoção a mais na sua carteira de investimentos, mas agora você acabou de ter um filho, ou acabou de ser demitido, ou ficou doente, ou quis comprar uma casa e fez um financiamento. Ou seja, seu momento de vida pede cautela, não especulação financeira.

Por outro lado, ser arrojado não te torna melhor do que ninguém, apenas representa que você talvez já esteja em um patamar mais tranquilo de vida, já tem um bom colchão de liquidez, tem seu imóvel próprio (ou não, isso já é outra discussão), os filhos já estão encaminhados na vida, ou você ainda não tem ninguém que dependa financeiramente de você. Nesse caso, pode se permitir testar seus nervos de aço na montanha-russa do mercado financeiro, porque se tudo der errado e você tiver uma carteira diversificada de forma correta, não vai desestabilizar sua saúde financeira em caso de um revés no cenário econômico.

O que é ser moderado, então?

Ser moderado é arriscar-se com prudência, é colocar só um pezinho nas águas mais turbulentas da economia. É tolerar um certo nível de volatilidade para buscar um retorno superior, mas sem se expor demais em aplicações de risco. Como o nome sugere, é ter moderação, equilíbrio.

E será que quase metade das mulheres investidoras são moderadas mesmo, ou só estão com vergonha de assumir que são conservadoras, por exemplo, por medo de serem taxadas de ultrapassadas e incapazes de lidar com o próprio dinheiro?

Ou será que, pelo contrário, elas seriam até mais arrojadas, mas toda a estrutura patriarcal em que a maioria de nós foi criada sugere que não é lá muito correto uma mulher ser arrojada com os investimentos… assim como ela não deve falar de forma muito assertiva em uma reunião de trabalho, escolher carreiras muito técnicas, dirigir bem, escolher não se casar ou não ter filhos, essas coisas, sabe? Imagina, colocar o dinheiro em risco, não pensa na sua família? Seu pai sabe que você está fazendo essas coisas? E o seu marido, diz o que sobre isso?

Muitas vezes, pela pressão social ou familiar, é esperado que a gente assuma uma postura de “cuidadora”, aquela que zela pela segurança e pela harmonia do lar, e isso parece meio incompatível com muita aventura financeira, não parece não? Aliás, viver qualquer tipo de aventura é altamente contraindicado para as mulheres. Sim, contém ironia. Mas é verdade.

Isso tudo são crenças inconscientes (os famosos ‘vieses’) que carregamos pela vida, que passam de geração em geração e que influenciam todas as nossas decisões, inclusive as de ordem financeira. O importante, aqui, é não se deixar engessar por uma estrutura classificatória, que serve meramente para atender a um protocolo mínimo (e super necessário) de proteção ao investidor. Afinal, se você estiver fazendo um investimento que não esteja aderente ao seu perfil de investidor cadastrado, a instituição financeira tem obrigação de te alertar. Mas é exatamente isso, um alerta, não é uma barreira para suas preferências pessoais.

Não existe certo ou errado em investimentos. Existe aquilo que é melhor para você, para aquele seu momento de vida. Vamos nos preocupar menos com classificações formais e mais com iniciar ou aumentar nossa reserva financeira. Começando pelo óbvio, que é conseguir guardar dinheiro. Reduzindo despesas, liquidando dívidas (ou substituindo a linha de crédito por outra com menor taxa de juros), arrumando uma outra fonte de renda e organizando sua capacidade de poupança. Conseguir poupar já é um enorme passo. E cuidando das crenças limitantes que rondam a nossa mente, isso vai ficar mais fácil.

Se não sabe em que investir, comece devagar. Não é errado aplicar em poupança, por exemplo, se é o que vai te deixar segura no momento (mesmo que aquele/a influencer de finanças diga o contrário). Errado é fazer mal para os outros. Aplicar em poupança já te coloca à frente de uma grande parcela da população que ainda não investe em nada. Depois que você conseguir juntar um valor suficiente para sua “reserva de paz” (aquela poupancinha que te deixa em paz caso algum imprevisto aconteça, e que deve ser aplicada em algo extremamente seguro e disponível), você pode começar a diversificar seus investimentos de acordo com seu objetivo (uma viagem, comprar ou trocar o carro, quitar seu imóvel, estudar, planejar sua aposentadoria, qualquer coisa que te faça feliz – afinal, é pra isso que o dinheiro serve).

Não adianta colocar dinheiro em cripto se você nem sabe direito do que se trata (e os riscos envolvidos). Não adianta buscar uma modalidade de investimento porque “todo mundo diz que é bom”, “todo mundo está fazendo”. Meu anjo, lembre-se do valioso ensinamento das nossas mães: você não é todo mundo! O que é bom “pra todo mundo” não necessariamente será bom para você.

Saia da caixa, busque conteúdo de qualidade, informe-se com fontes confiáveis, empodere-se. Mas não sofra. Embora pareça complexo, não é tão difícil assim. Aqui no Blog do BB você encontra muito conteúdo para ampliar seu conhecimento e para te ajudar a tomar as melhores decisões de investimentos. Nós temos uma ferramenta preciosa no App BB chamada Investir com um Objetivo, que te auxilia a distribuir os recursos entre modalidades conforme seu perfil de investidor, o prazo da aplicação e o uso que você pretende fazer dela.

A menos que seja de origem ilegal, você não precisa dar satisfação a ninguém sobre o que vai fazer com o SEU dinheiro. Reage, mulher! Bota um cropped (pode colocar sim) e vem investir com a gente!

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