Cris Hoffmann – Mulher, mãe, especialista em investimentos e em diversas outras coisas aleatórias.
Sim, eu sei que você não aguenta mais ouvir falar do filme da boneca mais famosa do mundo e de ver todas as vitrines em cor-de-rosa. Prometo que não vamos falar dela hoje. Aliás, se você quiser, falamos. Mas eu preciso assistir ao filme primeiro. Ouvi dizer que ele veio bem fora do clichê esperado, no entanto, ainda não posso opinar. Enfim, não vamos falar do filme hoje.
Pink Tax, ou taxa rosa, é uma prática comum de mercado da qual talvez nunca tenha ouvido falar, porém você certamente já sofreu seus efeitos: é a prática de cobrar mais caro por artigos femininos. Aquela clássica história da lâmina de barbear cor-de-rosa que custa três vezes mais em relação a outra, igualzinha, mas azul.
Uma simples pesquisa em qualquer comércio eletrônico vai mostrar que, em produtos praticamente iguais, nos quais só muda a cor ou a embalagem, as versões ditas femininas custam mais. Grosso modo, tudo rosa é mais caro. Uma pesquisa da ESPM, em 2017, mostrou que as mulheres pagam, em média, 12,3% mais em produtos idênticos àqueles direcionados ao público masculino, “apenas por serem rosa”. E os percentuais variam de acordo com a categoria de produtos, chegando a 23% extras nos itens de vestuário bebê/infantil “de menina”, 27% no corte de cabelo e 26% em brinquedos.
A indústria ainda reforça o estereótipo de gênero, com abordagens agressivas de marketing, sobrepondo cada vez mais lançamentos de produtos ultra direcionados ao público feminino. Experimente comparar o preço de uma fritadeira elétrica preta com uma rosa. Ou tente fazer o enxoval do seu bebê todo neutro para ver a dificuldade que é encontrar itens unissex. Confia, eu tentei.
A maior parte de nós, mulheres, já deve ter ouvido uma piadinha maldosa em algum momento sobre como somos gastonas. Será que gastamos demais, mesmo? Ou será que apenas pagamos mais caro pelas coisas? Ou apenas somos o alvo principal, bombardeadas o tempo todo pela indústria do consumo?
Soma-se a isso o fato de que, historicamente, nós ganhamos menos que os homens. E não sou eu quem faz essa afirmação não, é o IBGE. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a mulher brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um homem. E aqui nem vamos nos aprofundar em questões de diferenças sociais, raciais e outras tantas que tornam a relação ainda mais desigual.
Então nós ganhamos menos e pagamos mais caro pelos produtos e serviços apenas por sermos mulheres. Pesado, hein?
Resumindo a ópera, enquanto ganham menos e gastam mais (não só pela pink tax, mas pela pressão estética que leva a inúmeros serviços e procedimentos –– pela qual também pagam e não é pouco –– ou mesmo pela necessidade de cuidar da família, sendo às vezes a única fonte de renda da casa), as mulheres veem sua saúde financeira cada vez mais precarizada. Em uma situação assim, como pensar em investir?
Talvez precise partir de nós, consumidoras, a mudança no mercado. Enquanto eu concordar em pagar mais caro por uma lâmina de barbear rosa, uma Airfryer colorida (trocando a minha preta, que ainda estava boa, funcionando direitinho – mas não era rosa) e qualquer outro fru-fru do qual eu não preciso efetivamente, mas a sociedade, a indústria e a publicidade afirmam que eu preciso, sim, estarei contribuindo para a perpetuidade dessa prática tão perversa. E digo mais, nem vou entrar na questão da preservação ambiental, da geração de lixo e do ainda tão tímido processo de reciclagem de resíduos.
Se quero investir, ter grana para viajar ou pagar pelo meu estudo ou dos meus filhos, planejar uma aposentadoria tranquila, talvez eu deva abrir mão dos fru-frus e levar uma vida mais minimalista. O estilo não versa sobre escassez e falta de conforto, pelo contrário: ser minimalista é viver com aquilo que é realmente necessário, eliminando os excessos. Todo exagero de coisas vai se refletir em excesso de contas a pagar, de energia e tempo para limpar e organizar, espaço ao armazenar. Enquanto uma vida leve, com o essencial organizado, nos torna inclusive mais tranquilos e serenos, e isso tudo, acredite, vai se refletir diretamente no seu bolso. Trata-se de comprar menos e melhor.
Uma Airfryer rosa pode até oferecer um benefício momentâneo; uma cozinha combinando pode remeter à infância e trazer de volta aquele sentimento tão gostoso de brincar de casinha. Mas o seu eu do futuro certamente vai lhe agradecer se abrir mão de certos modismos e prazeres efêmeros em busca de um benefício muito maior e mais durável.
E é óbvio que eu não estou falando para ninguém abrir mão de conforto ou cuidados pessoais e investir dinheiro no banco. Nada é tão preto-no-rosa, digo, preto-no-branco assim. O importante é trazer luz sobre o tema, pois, assim, teremos consciência das nossas decisões, incluindo quais fatores levamos em consideração e o que é realmente importante e prioritário a nós.
A escolha é sua.
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