É muito comum que o termo afrofuturismo seja associado a imagens que mesclam a ancestralidade africana e a tecnologia.
Uma estética bem semelhante àquela vista na Wakanda do filme “Pantera Negra”, da Marvel.
Em partes, essa referência está correta.
Contudo, falar sobre afrofuturismo é mergulhar mais a fundo na vivência de pessoas negras, transpassando desde os campos da arte e da literatura até as ciências, a filosofia e a própria política.
Para que você compreenda melhor esse movimento, sua crítica ao racismo estrutural e sua influência sobre a cultura contemporânea, é fundamental levar em consideração o contexto histórico envolvido.
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Como o afrofuturismo surgiu?
Pare por alguns segundos e pense no que você entende como futuro. Quais são as características que formam esse mundo aonde ainda não chegamos? São os carros voadores? Os robôs que fazem todas as tarefas chatas da vida humana? As viagens para outros planetas?
Com esse questionamento em mente, é provável que você tenha visualizado muitas das coisas citadas acima. Mas há também chances de que, em nenhum momento, seu pensamento tenha sido ocupado pela imagem de uma pessoa negra nesse cenário futurístico.
Isso ocorre por dois motivos principais: há uma construção social em que pessoas brancas são colocadas como universais em todos os aspectos, além de ainda existir a visão errônea de identificar pessoas negras como menos evoluídas.
Foi para criticar esse contexto social que o afrofuturismo surgiu. Com o reforço da ficção científica, o movimento valoriza a ancestralidade negra e traz à tona a discussão de que a existência dessas pessoas não se resume somente ao processo de escravização.
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Quem esteve e está por trás desse movimento?
Tendo como pioneiro o músico americano Sun Ra, o afrofuturismo levanta o ideal político de que pessoas negras também dominam os campos das ideias, da tecnologia, da cultura e das artes.
Sun Ra iniciou essa discussão ainda nos anos 1960, quando o movimento não só não tinha a popularidade que tem hoje como também era pouco debatido.
Outro nome fundamental para a formação do afrofuturismo é a escritora, também americana, Octavia Butler, conhecida como a “primeira dama da ficção científica”. Butler é a maior referência da literatura desse gênero e já publicou dezenas de obras, sempre evidenciando o protagonismo negro.
Nos dias atuais, podemos citar, ainda, a cantora Beyoncé, que busca por meio de suas músicas e seus álbuns exaltar a experiência afrocentrada.
Inclusive, no seu álbum “Black is King”, a artista afirma que “viver sem reflexo por muito tempo pode fazer com que as pessoas se questionem se elas realmente existem”, fazendo uma crítica direta à falta de representatividade negra na mídia.
São inúmeras as figuras negras que seguem fortalecendo o movimento afrofuturista nos dias de hoje.
No Brasil, por exemplo, podemos citar nomes, como o escritor Fábio Kabral, a cantora Gaby Amarantos, a doutora em comunicação Kenia Freitas e, ainda, o cantor e compositor, Gilberto Gil, que já se posiciona nesse sentido desde a década de 1960, como se nota em sua música “Cérebro Eletrônico”, de 1969.
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A ficção científica e a falta de pessoas negras
Ficção científica é um gênero que serve de base tanto para literatura como para o cinema, baseando-se em possíveis feitos científicos ou técnicos que poderiam acontecer no futuro ou em universos paralelos ao nosso.
Podemos dizer também que é um gênero focado em sonhar com o amanhã, retratado em obras cinematográficas como Star Wars, De Volta Para o Futuro e até o desenho animado Os Jetsons.
Apesar de enredos muitos bons, que prendem os telespectadores, o que essas produções têm em comum, e o afrofuturismo denuncia, é a escassez de pessoas negras em seus elencos.
Para alguns ativistas do movimento, essa falta de representatividade demonstra um desejo — mesmo que involuntário — de que o futuro acontecesse sem a presença de pessoas negras.
Dessa maneira, o que o afrofuturismo promove hoje é a concepção de obras que imaginam o porvir a partir da perspectiva da população negra e de forma não eurocêntrica.
A adaptação dos quadrinhos do personagem Pantera Negra para o cinema é um exemplo disso e um marco para o movimento. O filme, que fez com que muitas pessoas se enxergassem a partir dessa posição do negro no centro, como protagonista e presente no futuro.
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Afrofuturismo e a cultura pop
O que o afrofuturismo propõe é um despertar para a consciência histórica e ancestral das pessoas negras, exaltando isso no atual futuro, ao passo que se questiona o processo de apagamento da cultura africana.
Nesse panorama, ele vem cada vez mais impactando e remodelando a cultura pop, indo para além de um viés estético e alcançando todos os campos de conhecimento humano, mas partindo da arte para isso.
A valorização e o reconhecimento da cultura e da diáspora africana já ocuparam espaços de destaque no Cento Cultural Banco do Brasil. Em setembro de 2021, o CCBB Brasília promoveu a primeira edição do festival Luz da África.
Luz da África foi uma mostra de cinema e cultura que teve como objetivo proporcionar um mergulho profundo ao multifacetado continente africano.
Durante o festival, foram exibidos, 13 filmes recentes produzidos por mulheres negras. O evento também abriu espaço para apresentações musicais, roda poética, contação de histórias e bate-papos com diretoras de cinema e personalidades convidadas.
Saiba mais sobre esse evento.
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