Por: Frederico Monteiro, gestor de fundos offshore e alocação no exterior da BB DTVM

No filme Onze Homens e um Segredo (2001), os personagens de George Clooney, Brad Pitt e mais nove estrelas roubam três cassinos de propriedade de Terry Benedict, interpretado por Andy Garcia.

Na trama, os onze experientes e carismáticos ladrões profissionais se juntam para aplicar um grande e audacioso golpe contra um antipático multimilionário.

O fascinante grupo de gatunos e suas histórias particulares faz com que o espectador, quase que involuntariamente, torça para que o ousado ardil dê certo.

O filme é uma versão do original de 1960 (que conta com atuações de Frank Sinatra e Sammy Davis Jr.) e em ambos – alerta de spoiler – os golpistas se dão bem.

Agora experimentemos uma alteração de perspectiva: podemos perceber que o filme trata da história de um empresário dedicado que, com muito empenho e trabalho conseguiu construir uma rede de cassinos.

Seus hotéis vão muito bem, empregam milhares de trabalhadores.  

Porém, num belo dia, o honesto homem de negócios é vitimado por um grupo inescrupuloso que rouba milhões de dólares de seus cofres.

Sob esse ponto de vista podemos ponderar: como pude, ao longo do filme, ser levado a acreditar que os “heróis” eram os ladrões? Como pude torcer para o sucesso desta desonesta empreitada?

É fácil encontrar exemplos na história e na ficção em que a mudança de perspectiva pode mudar radicalmente sua opinião.

No âmbito da análise ASG (Ambiental, Social e Governança) não é diferente.

Os vilões e os heróis não estão claros e esse é um dos temas centrais nos fóruns de debate do mercado financeiro.

Como avaliar corretamente o engajamento ASG das empresas, quais critérios utilizar e como comparar casos tão distintos e particulares, são alguns dos grandes desafios.

Mesmo situações que parecem óbvias num primeiro olhar, podem se mostrar desafiadoras quando avaliadas mais de perto.

Tomemos como exemplo as empresas de carros elétricos e seus veículos que, potencialmente, podem diminuir a emissão de gases que provocam o efeito estufa, promovendo assim um impacto positivo para o meio ambiente.

Tais empresas deveriam, portanto, ser consideradas como ASG, certo? Não tão rápido.

Ao colocar lado a lado um carro a gasolina, que consome combustível fóssil e polui a atmosfera, e um silencioso carro elétrico, que pode ser recarregado com energia limpa, parece óbvio que o segundo é mais amigo da natureza do que o primeiro.

Entretanto, já aprendemos que o descarte de baterias é algo extremamente danoso ao meio ambiente.

Pequenas pilhas AAA, baterias de relógio e celulares precisam de atenção especial no descarte.

O que dizer então das enormes baterias dos carros elétricos? Será que estariam tendo toda a atenção necessária no descarte?

Num futuro próximo, com a maioria dos veículos sendo elétricos, será que o descarte inapropriado pode nos colocar na rota de um desastre ambiental ainda mais grave? Estas respostas não são óbvias e merecem atenção.

Nesse mesmo sentido, devemos tentar entender o real valor ambiental ou social e a grandeza do impacto das ações ASG.

Diferentemente de índices de liquidez, endividamento, retorno sobre o patrimônio líquido, relações risco/retorno, entre outros, os aspectos ASG tratam de casos mais subjetivos do que objetivos e, como tal, têm um caráter particular ao sujeito.

Em outras palavras, sujeitos diferentes podem chegar a conclusões distintas sobre o mesmo tema.

Como comparar uma empresa que produz a partir de lixo reciclado, com outra que constrói casas populares que contam com reaproveitamento de água e placas fotovoltaicas?

Ou uma empresa que está investindo fortemente na educação dos jovens no bairro humilde onde está instalada com outra que está investindo em zerar a emissão de gases do efeito estufa?

Quem estaria promovendo o maior impacto? Ser capaz de identificar e comparar os aspectos e iniciativas ASG de diferentes empresas é o atual desafio do investidor ASG. Como tal, estamos em constante aprendizado e evolução.

Na BB DTVM já aplicamos análise ASG há muitos anos. Hoje, uma boa parte dos gestores concorda que a análise ASG conversa diretamente com a saúde econômica, longevidade e sustentabilidade das empresas.

Analisar ASG, de fato, agrega valor e nos permite ser sócios de casos de sucesso e dos quais colheremos frutos, não só como investidores, mas enquanto sociedade, por muitos anos.

Avançar nesse debate, exercitar o pensamento crítico sobre o tema e analisar sob diferentes pontos de vista é nossa obrigação.

Não só como profissionais do mercado financeiro, em busca de oportunidades para os nossos cotistas e investidores, mas como humanos responsáveis por criar sociedades mais sustentáveis, com maior qualidade de vida e que interajam de maneira harmônica com o meio ambiente, preservando-o para as gerações futuras.   

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