Por Marcelo Henrique Leite Ferreira – gerente executivo na Diretoria de Tecnologia do BB (Ditec)

Foto de Marcelo Henrique

O Open Banking, sistema financeiro aberto e conectado, parte do princípio que os dados do consumidor são de sua propriedade e não do banco ao qual está vinculado. 

Hoje, no Brasil, as informações são compartilhadas de forma assimétrica

Para contextualizar: se um cliente tem conta no banco A, é essa instituição que detém o histórico de crédito dele, que pode indicar, por exemplo, se ele é ou não um bom pagador. 

Mas, se esse cliente deseja pedir um empréstimo no banco B, em que não possui conta, ele poderá ter dificuldade para conseguir fazê-lo, mesmo sendo um “bom pagador”. 

Isso acontece porque o banco B nem sempre tem dados suficientes para avaliar o risco associado àquela operação e liberar o crédito. 

O cliente fica dependente da instituição onde tem um relacionamento mais completo e sujeito às suas taxas, o que incentiva a alta concentração bancária no país. 

O Open Banking pretende reduzir essa barreira de entrada, consolidando as informações financeiras sobre o cliente e, portanto, esse conceito de “bom pagador”, democratizando a informação, a critério do consumidor, para facilitar o acesso não só aos empréstimos, mas a diversos tipos de produtos financeiros. 

Nesse novo modelo, bancos, fintechs, instituições de pagamentos conseguirão transitar informações entre si, tornando muito mais simples para o consumidor exercer seu direito de escolha.

Essa nova relação entre cliente e instituições promete otimizar os processos no mercado financeiro, já que a troca de informações ocorrerá por meio de APIs padronizadas por regulação, e melhorar a experiência dos usuários, que só precisarão realizar a autorização do compartilhamento de seus dados, quando quiser solicitar uma análise de crédito mais precisa, por exemplo. 

Leia também: Open Banking: aberto para as tendências

Para que o cliente possa realizar todo o processo de maneira segura, a regulação também impõe o cumprimento de critérios de segurança, que garante a integridade da conexão entre instituições e dos dados compartilhados. 

Qual será o impacto nos negócios? 

Com a padronização para o compartilhamento dos dados a pedido do cliente, fica muito mais fácil abrir contas e adquirir produtos e serviços em diferentes instituições ao mesmo tempo. 

Para as instituições financeiras como um todo, será o momento de aprimorar a análise de dados para aprofundar o conhecimento sobre seus clientes e apurar a precisão de suas metodologias de cálculo de crédito, análise de risco ou de recomendações. 

Isso porque, mesmo detendo relacionamento com o cliente, nada garante que ele vá consumir apenas os seus produtos e serviços, não é mesmo!? 

Assim, quem tiver as ofertas mais adequadas ao perfil do cliente, de acordo com os dados disponibilizados por meio do Open Banking, tende a conquistá-lo. 

A utilização dos dados que serão compartilhados entre os bancos, a pedido do cliente, vai além da alimentação dos modelos mais tradicionais de crédito e risco. 

Leia também: Como o BB enxerga a transformação digital

Ter conhecimento de uma gama maior de informações sobre um cliente possibilitará um salto na inteligência analítica das instituições, incidindo não só em resultados mais eficientes para as organizações e acionistas, como em soluções muito mais personalizadas para os clientes.

Os bancos tradicionais, que hoje possuem uma grande gama de produtos e uma robusta estrutura de segurança, investirão mais na experiência do cliente e em inteligência analítica, enquanto as fintechs, devem ampliar o portfólio de produtos e serviços e encorpar seus protocolos de segurança. 

É o Open Banking quem vai incentivar a concorrência entre os participantes desse “novo” sistema financeiro. 

A tendência é o surgimento de novos modelos de negócios, o que vai beneficiar os consumidores, que terão mais opções disponíveis e, provavelmente, produtos mais baratos ao longo do tempo. 

Mas afinal, o que são as tais APIs? 

A Application Programming Interface (API) ou Interface de Programação de Aplicativos é o recurso que permitirá às instituições compartilharem as informações do Open Banking de maneira padronizada. 

No caso do Open Banking, elas funcionam como conectores por meio das quais serão consultadas e disponibilizadas as informações dos usuários. 

É o que permite que o fluxo de troca de dados de clientes entre as instituições se dê de forma ágil e segura. 

Ágil porque todas as instituições receberão e enviarão as informações no mesmo padrão. 

E seguro porque todo o processo observará protocolos rígidos e será supervisionado pelo Banco Central

Imagine a quantidade de soluções que podem se utilizar da troca de informações fluida entre instituições do ecossistema Open Banking, que logo se tornará Open Finance, integrando a troca de informações sobre investimentos, seguros, câmbio, entre outros. 

Como o ponto central desse processo está na autorização do cliente para compartilhar seus dados, o sistema deve ter uma característica de evolução gradual: quanto mais clientes aderirem, melhores ficarão os modelos analíticos, maior será a competição e melhores as soluções oferecidas.  

No BB, as APIs para um sistema financeiro aberto não são novidade. Fomos o primeiro Banco a disponibilizar um portal voltado para a integração digital e para o público de Desenvolvedores, o Portal Developers, em 2017. 

O Portal disponibiliza as APIs BB (regulatórias e negociais), entregando um ambiente que permite a integração digital de mais de 6 mil usuários e 1,5 mil empresas, quantidades essas em constante crescimento. 

Além disso, de maneira única no mercado, o portal oferece um ambiente colaborativo entre os usuários, conectando-os por meio dos fóruns e atendendo-os por meio de service desk pronto para apoiar no processo de consumo das APIs.

Publicidade
Este conteúdo foi útil

Comentários:

Seu e-mail não vai aparecer no comentário.

Carregando Comentários...