O Centro Cultural do Banco do Brasil Brasília (CCBB) apresenta até o dia 5 de setembro, presencialmente e on-line, o festival “Cinema Urbana – Mostra Internacional de Cinema e Arquitetura”.

Em sua terceira edição, a mostra “Cinema Urbana” quer aprofundar sua proposta de integrar o cinema ao debate sobre as diversas formas de aglomeração e dispersão urbana. 

E nesta reflexão entram temas como a superlotação das cidades, a arqueologia visual, a gentrificação, a ganância imobiliária, assim como a relevância do trabalho de arquitetos e artistas de grande talento e sensibilidade, como Marcos Konder Netto, Francisco Galeno e Luís Humberto.

André Costa colabora com a curadoria do Cinema Urbana desde 2018. Arquiteto e urbanista formado pela Universidade de Brasília. 

É mestre em Cultura Contemporânea, com um livro sobre a cantora Björk, As Aventuras Subjetivas de Björk (2014), e doutor em Cinema Brasileiro, com uma  tese sobre a obra do cineasta Karim Aïnouz (2016). 

Foi curador do “Arquiteturas” – Festival Internacional de Cinema de Arquitetura de Lisboa (2019). 

É professor do Departamento de Projeto Expressão e Representação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Brasília. 

Nesse artigo, ele explora os conceitos que inspiram a seleção das obras.

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Aprendendo com Brasília no CCBB

O tema curatorial proposto originalmente “Aprendendo com Brasília” – título emprestado do livro “Aprendendo com Las Vegas” (1972), de Venturi, Scott Brown e Izenour – pautou a seleção da programação da Mostra. 

Passados 61 anos da inauguração, hoje parece possível pensar Brasília para além de uma compreensão congelada de patrimônio, estimulada ainda, talvez, por certo ufanismo pioneirista. 

Brasília continua em construção, e aprender com ela significa não apenas superar o debate em termos de êxito ou fracasso da utopia que motivou sua construção; significa acima de tudo entender o funcionamento condicionado pela singularidade de seu projeto de cidade.

“A cidade precisa seguir vivendo o seu normal, ou seja, viver o seu cotidiano urbano a despeito do monumental e do midiático […] Quando se trata de uma cidade tão singular, pensada em perspectiva tão otimista e utópica, torna-se necessário recobrar o sentido cotidiano inerente a uma cidade”

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Eduardo Pierrotti Rossetti, no artigo Brasília-patrimônio: desdobrar desafios e encarar o presente. 

Como então pensar Brasília a partir de um texto que representa, em tese, uma crítica das mais veementes – a própria antítese, diríamos – da doutrina modernista que serviu de base para a concepção da cidade? 

É precisamente este o debate que o confronto entre a Brasília modernista, racionalista e organizada de Lúcio Costa e a Las Vegas ordinária, espontânea e ambivalente de Venturi traz à tona: é no cotidiano que se aprende com as cidades, é nele que se encontram os dados do real que precisam ser elaborados e compreendidos. 

Público no festival “Cinema Urbana – Mostra Internacional de Cinema e Arquitetura”. Foto: Divulgação

Ao se confrontar cidades tão distintas, a reflexão subjacente proposta pela curadoria da Cinema Urbana deste ano é que o debate formalista, aludido na relação dicotômica entre a capital brasileira e a cidade norte-americana dos jogos de azar, parece hoje ultrapassado. 

O vivido é que importa de fato ser pensado hoje sobre qualquer cidade, e o cinema de arquitetura é um meio privilegiado de observação crítica e reflexiva sobre os encontros, os usos, as ocupações e as (re)criações que se operam nas vivências do espaço de uma cidade.  

A proposta então se ampliou para que, a partir dessas duas cidades, se pudesse pensar em todas as outras, sobre nós como “seres urbanos”, como nomeia o arquiteto português Nuno Portas. 

A questão que se coloca é o que podemos aprender com as cidades em que estamos vivendo e construindo?

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