Hector Amaral é engenheiro, designer gráfico, amante de violão e motoryder nas horas vagas

Hector Amaral

Olá, pessoal! Sou Hector, tenho 31 anos no momento da escrita deste artigo e encho meu peito para falar como eu tenho orgulho em dizer que sou autista. Mas não foi fácil assumir esse transtorno que faz parte da minha personalidade.

Eu fui diagnosticado ainda novo, aos 7 anos, numa época onde não se tinha muito conhecimento de autismo no país. Em Belo Horizonte, onde nasci e cresci, havia na época somente 2 profissionais qualificados que tratavam do assunto, e ambos me deram diagnóstico. Mas eu nem fazia ideia disso, afinal, eu sempre fui uma criança muito hiperativa e ansiosa. Nem olhar nos olhos das pessoas eu olhava – só comecei a fazer isso aos 8 anos de idade.

Mas quando a adolescência chegou, minha hiperatividade e ansiedade começaram a dar espaço para um olhar mais crítico para minhas relações sociais. Comecei a perceber que era deixado de lado por muitos colegas da escola, porque faziam chantagem comigo e me ameaçavam falando que não seriam mais meus amigos se eu não ajudasse numa prova ou para-casa, e eu ajudava. Mas quando tinham festas de aniversário, ninguém se lembrava de mim.

O fato de sempre me procurarem acabava, de certa forma, alimentando meu ego de que eu era “o melhor”, motivo pelo qual eu erroneamente menosprezava os colegas que tinham mais dificuldade de ter boas notas, e ficava bravo quando eles iam melhor do que eu.

Outra forma era fazendo brincadeiras maldosas que eu desconhecia, que me deixavam bravo e eu reagia – motivo pelo qual fui várias vezes chamado pela diretoria da escola para levar “puxão de orelha”.

Assim, certo dia aos meus 14 anos de vida, perguntei à minha mãe o que eu tinha de diferente dos demais colegas por minha dificuldade em interação social. E a resposta, enfim, veio – “Hector, você é autista”. Minha primeira reação ao ouvir isso foi um certo desespero, e queria reverter de alguma forma.

Perguntei à minha mãe se tinha algum remédio para isso. E a resposta foi negativa, me alertando que deveria conviver com o autismo por toda minha vida, mas que eu tinha um desenvolvimento lógico-matemático maior do que a maioria das pessoas. Bom, por mais que a resposta da minha mãe me desse um incentivo cognitivo, na minha cabeça eu queria deixar de lado essa “vantagem” do desenvolvimento lógico-matemático para ter um lado social mais bem desenvolvido.

E foi aí que comecei a perceber que, se eu quisesse conquistar meus sonhos, eu deveria fazê-lo sozinho. E assim floresceu uma das características mais importantes da minha personalidade: minha independência.

Eu aprendi a fazer muitas coisas sozinho, sem precisar pedir ajuda a ninguém como tocar violão, por exemplo. E mesmo assim eu ainda ajudava as pessoas quando me pediam – minha frustração da infância me fez enxergar que nunca devemos exigir uma contrapartida quando ajudamos alguém. Isso deve partir dos nossos corações. E isso tirou um peso da minha consciência.

E aí minha vida engrenou e decolou! Ensino médio técnico indo sozinho para a escola, início dos estudos na faculdade, carteira de motorista, intercâmbio na Espanha, concurso do BB… cada episódio fabuloso da minha vida que fizeram – e ainda fazem – eu me tornar uma pessoa mais madura pessoal e profissionalmente.

E assim como não tenho absolutamente nenhum medo de falar de autismo, felizmente esse assunto está cada vez mais sendo abordado, com mais autistas sendo diagnosticados – sempre teve autistas, mas a medicina ficou mais avançada e precisa em diagnosticar. Mas ainda há muito preconceito, que acredito que vai ainda existir por muito tempo. Da minha parte o que posso fazer – e isso já me satisfaz – é informar a todos. Mesmo assim, e com cada vez mais conteúdo sendo disponibilizado, muitos não querem se informar. A essas pessoas não há muito o que se fazer, a não ser orar por elas e jamais menosprezá-las ou julgá-las.

E para você que ainda está em processo de diagnóstico (seja seu ou de algum parente próximo), continue firme. Não se abale pelo preconceito e não tenha medo de assumir o diagnóstico, pois a felicidade vem quando nos respeitamos – daí entenderemos nossas limitações e potenciais, e sempre ficaremos satisfeitos com nós mesmos.

Um abraço.

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