Por Yuri Storch, especialista em estratégia de alocação
Embora tenha sido um mês mais curto, fevereiro não deixou a desejar em termos de eventos importantes.
Iniciamos logo no dia 1º com a decisão do Copom de manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano. Visto que a expectativa de inflação para 2023 ainda está acima da meta de 3,25%, o mercado já aguardava essa decisão. A Ata do Copom, entretanto, reforçou o tom mais firme do Banco Central, que reafirmou seu compromisso de atuar para que a inflação convirja para a meta. Boa parte do mercado internalizou esse recado, postergando as projeções para o início do ciclo de cortes da Selic.
Somado a isso, os dados do IPCA-15 vieram, pelo segundo mês consecutivo, acima das expectativas, mostrando que a inflação ainda permanece resiliente. E, quase no final do mês, tivemos a notícia do fim da desoneração dos combustíveis que, por um lado, pode trazer um impacto positivo para os cofres públicos, mas, por outro, pode contribuir para o aumento dos preços de um item importante para os índices de inflação.
Com esses movimentos, vimos a curva de juros abrir na parte mais longa. Os ativos de renda fixa indexados à inflação, principalmente nos vértices mais curtos, foram mais favorecidos no mês: o IMA-B 5 fechou com retorno de 1,41%, enquanto os ativos prefixados: o IRF-M fechou o mês com 0,86% de retorno, abaixo dos 0,92% do CDI.
No setor privado, após os abalos do caso das Lojas Americanas em janeiro, o mercado de crédito privado sentiu os efeitos dos acontecimentos envolvendo outras 2 grandes empresas em fevereiro. O IDA-Geral, índice da Anbima para acompanhar o mercado de debêntures, retraiu -0,59% no mês.
Na renda variável, a situação foi ainda mais complicada. Sentindo os efeitos do alto custo do dinheiro, do aumento da inflação e da fuga de capital estrangeiro, o Ibovespa caiu -7,49% em fevereiro, revertendo os ganhos de janeiro.
No exterior, o cenário não foi muito diferente: os bancos centrais dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Zona do Euro continuaram o ciclo de apertos monetários, com o objetivo de tentar controlar uma inflação que ainda dá sinais de força nestes países, principalmente quando analisamos o núcleo da inflação.
Nos Estados Unidos, os dados de emprego continuam vindo muito fortes, o que indica que a economia não está desaquecendo. O mercado, então, reavaliou os próximos movimentos do FED, que deve ter que prolongar e/ou intensificar o ciclo de apertos monetários da economia para poder trazer a inflação de volta para a meta.
O S&P, principal índice das bolsas americanas, sentiu esses movimentos e caiu -2,61% em fevereiro. O MSCI ACWI, índice que mensura o desempenho de diversas bolsas ao redor do mundo, sentiu ainda mais, caindo -2,98% no mês.
Como ficam as carteiras em março?
Considerando este cenário, realizamos uma alteração pontual em nossas carteiras sugeridas: reduzimos a exposição a investimentos no exterior e aumentamos a exposição em ativos pós-fixados. Esse movimento impacta as nossas carteiras dos perfis Moderado, Arrojado e Agressivo.
Historicamente, há uma correlação negativa entre os juros norte-americanos e o desempenho das bolsas globais: quanto mais os juros sobem, pior tende a ser o desempenho dessas bolsas. Visto que houve uma reprecificação de novos aumentos da taxa de juros, e que a bolsa americana está em patamares de preço ainda relativamente caros, essa alteração mais defensiva busca proteger a rentabilidade da carteira dos clientes.
Foco no longo prazo
Março contempla uma data muito representativa, o Dia Internacional da Mulher. O marco nos convida a refletir sobre a luta das mulheres que levou décadas para começar a ter algum tipo de resultado, e enfrentou (continua enfrentando) diversos obstáculos e desvios no meio do caminho.
Vale levar essa lição para nossas carteiras de investimento. Os resultados são construídos no longo prazo, e não serão isentos de percalços inesperados. Às vezes precisaremos tomar posições mais defensivas para enfrentar um cenário mais adverso, e, às vezes, poderemos tomar posições mais arriscadas para surfar ventos mais favoráveis.
A história da luta feminina passou por eventos dramáticos como o incêndio em uma fábrica têxtil em Nova York, que levou à criação de leis de segurança e de condições de trabalho, além da figura de Clara Zetkin, que propôs um dia anual de manifestações pelos direitos das mulheres.
A luta feminina pela equidade passa, invariavelmente, pelo crescimento e reconhecimento de sua presença no mercado de trabalho. O dinheiro conquistado, quando bem aplicado, permite a emancipação do indivíduo. Essa afirmação pode ser estendida além das mulheres, para pessoas de todos os gêneros, classes e raças. Seus investimentos podem proporcionar a liberdade desejada.
Assim como a luta feminina tem sido travada há décadas, ou mesmo séculos, e ainda não chegou ao fim, temos que entender que a batalha dos seus investimentos também exige um planejamento de longo prazo para trazer os resultados esperados.
Para auxiliar nessa jornada, nosso time de gerentes e especialistas está à disposição. Desejamos a todos um excelente março.
Um forte abraço
Leia também:
Palavra do Especialista: Confetes, serpentinas e investimentos
RendA+: 10 características do novo Título do Tesouro Direto
Dicionário do Deseconomês: vamos falar de MaM
Entenda o que são Fundos de Investimento Multimercado e como eles funcionam
Comentários:
Carregando Comentários...