Juliana Coelho – Comunicadora por natureza e por formação. Apaixonada por tudo o que remete ao universo das interações humanas, pela escuta e pela escrita.
Eu quero ouvir a sua história. Ela não precisa começar com “era uma vez”, mas deve falar da sua jornada, do que te trouxe até aqui, suas lutas pessoais e triunfos, altos e baixos, como você superou seus desafios, o que te fez sorrir ou se emocionar neste caminho. Mas antes, deixa eu te contar outra história.
Imagine que você é o dono de uma concessionaria e precisa dar uma notícia aos seus funcionários. A mensagem é simples: “Durante este mês, vamos abrir a loja aos domingos. Já mapeamos o público-alvo e nossa meta é dobrar as vendas.” Mas, e se ela fosse contada de outra forma? “Muitas pessoas têm o sonho de comprar o seu carrinho. Para isso, elas trabalham todos os dias, saem de casa muito cedo e só retornam tarde da noite, quando as portas da nossa loja já estão fechadas. São para essas pessoas que nós vamos abrir a loja aos domingos.”
Você deve ter percebido que as duas mensagens trazem a informação principal. Na primeira, de forma objetiva e concreto. Na segunda, a narrativa explica o “porquê” por trás da ação, de forma humanizada, mais próxima e acessível. E é aí que você tem uma grande oportunidade de criar conexão com seu interlocutor, seja ele um cliente, um funcionário ou até o seu gestor, na hora de aprovar um projeto.
A narração de histórias é a forma de comunicação mais antiga de que se tem notícia. Uma habilidade humana intrínseca que tem sido valorizada como uma maneira poderosa de transmitir mensagens, ideias e valores.
No mundo contemporâneo, essa capacidade ganhou destaque não apenas como uma forma de entretenimento, mas também como uma ferramenta essencial na construção de marcas pessoais sólidas e nas estratégias de posicionamento de marca adotadas por empresas.
Mas, qual é a estrutura de uma história bem contada? Muitas pessoas usam a jornada do herói popularizada por Joseph Campbell. Ela começa com o chamado à aventura, quando você identifica o desafio que precisa ser enfrentado e como você pode ajudar. As pessoas têm um sonho, mas encontram a loja fechada, lembra?
Em seguida, vem o mentor e a assistência, quando você se posiciona como um guia que oferece solução e suporte para superar o desafio. Depois vem o desafio e a transformação, quando você de fato ajuda na superação do obstáculo e na transformação da situação. “Vamos abrir aos domingos”. E, por fim, a vitória e o retorno transformado, quando você mostra o resultado positivo alcançado com a sua ajuda. No nosso exemplo, seria a hora de contar as histórias de alguns clientes que realizaram o sonho, com o apoio da sua equipe.
Esta estrutura narrativa tem sido usada há séculos para contar histórias envolventes e épicas. E, talvez, se eu tivesse falado dela antes de dar um exemplo concreto, isso poderia parecer muito distante da sua realidade. Mas, ela pode ser aplicada a quase todo contexto. A marca de roupas esportivas Nike é um exemplo notável desta abordagem. Sua campanha “Just Do It” não vende apenas produtos, mas também narra a jornada do atleta, do desafio inicial à vitória final, tornando a marca uma parte integrante da história pessoal de seus clientes.
Michelle Obama usou sua plataforma para promover causas como educação e empoderamento das mulheres. Ela compartilhou histórias de sua própria vida para ilustrar a importância dessas questões. Ao fazer isso, ela construiu uma marca pessoal que refletia seus valores centrais e inspirou outros a seguirem o seu exemplo. Neil deGrasse Tyson, um astrofísico renomado, utiliza histórias e analogias para tornar a ciência compreensível para o público em geral. Ele construiu uma marca pessoal de comunicador eficaz, tornando a ciência atraente e envolvente.
Histórias são atemporais, independem do público, são contagiantes e facilitam a memorização. As histórias funcionam com crianças, adultos, novos contratados e CEOs. Ninguém está imune ao poder delas. Uma grande história tem vida própria. Estudos mostram que é vinte vezes mais provável você lembrar de uma informação incluída em uma história do que apresentada em uma lista.
Segundo a pesquisa 2023 Digital Marketing Trends da Brandwatch, “as pessoas querem pertencer e se conectar, criando uma oportunidade para as marcas aprofundarem seus relacionamentos com seus clientes”. Guilherme Brockingston, um pesquisador brasileiro, físico, que tem um estudo amplo sobre cérebro e aprendizagem, diz que a emoção é uma cola cognitiva. Você se conecta àquilo que te emociona.
As pessoas anseiam por conexões autênticas e significativas. O poder de contar histórias transcende gerações e culturas, ressoa com as experiências das pessoas. Vai além de consolidar o posicionamento da marca, mas também estimulam um diálogo contínuo. Ao criar narrativas que ecoam com a jornada e as aspirações do seu público, você pode se tornar mais do que apenas um produto ou serviço – você se torna parte integrante da história de vida e das conquistas das pessoas.
Me conta agora, qual é a sua história?
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