Minimizar os danos causados pela indústria ao meio ambiente é uma demanda global urgente. Um levantamento feito pelo Banco Mundial mostra que, caso a população no mundo todo chegue ao número estimado de 9,6 bilhões de pessoas em 2050, seriam necessários três planetas para sustentar o ritmo atual de consumo de recursos naturais.

Em recuperação após o período mais grave da pandemia, o setor têxtil e de confecção ocupa um espaço importante na economia de qualquer país. No Brasil, por exemplo, acumulou faturamento estimado de R$ 194 bilhões em 2021, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit): crescimento de 20% em relação a 2020. Ainda em comparação com o ano anterior, a produção de insumos têxteis cresceu 12,1% e de confecções, 15,1%. O mercado de varejo de roupas aumentou em 16,9%.

Por isso, repensar práticas e processos tradicionais aliviaria, e muito, a pressão que as indústrias, de maneira geral, impõem ao meio ambiente. Um levantamento da consultoria McKinsey, por exemplo, indica que a adoção de modelos circulares de comércio, como aluguel de itens e reparo de roupas, poderia abater 143 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa em 2030.

Dada a relevância ao setor na cadeia produtiva, empresários do ramo têm se atentado para a necessidade de reinventar a própria atividade.

Pensando na conservação do planeta, a busca por alternativas voltadas à sustentabilidade na moda é crescente.

Diante de tudo isso, você já parou para pensar sobre o real impacto da moda no meio ambiente? Neste artigo você entenderá um pouco mais sobre a importância de uma revisão do modelo de produção e conhecerá algumas práticas já adotadas pela indústria e pelos consumidores em prol do desenvolvimento sustentável. 

Moda sustentável e cultura do não desperdício

A moda sustentável, como o próprio nome indica, é uma vertente da indústria de vestuário preocupada em minimizar ou eliminar os impactos gerados no meio ambiente durante o desenvolvimento de produtos.

O conceito surgiu em meio à necessidade de adequar os padrões de mercado a práticas ecológicas e sociais mais conscientes. A moda sustentável é voltada tanto à promoção de novos métodos produtivos quanto ao consumo consciente de roupas.

Segundo Brenda Chávez, autora de Tu Consumo Puede Cambiar el Mundo, em entrevista à National Geographic, mais de 8% dos gases de efeito estufa são emitidos na produção de vestuário e calçados.

Ela acrescenta que, se nada for feito, as emissões devem crescer mais de 60% até 2030. Ou seja, a busca por maior equilíbrio entre moda e sustentabilidade não é por acaso.

Um exemplo: mais de 4 milhões de toneladas de resíduos descartados anualmente no Brasil correspondem a roupas velhas, peças de couro, retalhos, entre outras sobras oriundas da indústria da moda.

Isso representa cerca de 5% dos resíduos produzidos no país, todos os anos. Os dados são da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), divulgados para a CNN.

Assim, muito além da otimização dos processos industriais e conscientização dos consumidores, a moda sustentável visa minimizar desperdícios e reaproveitar insumos em todas as etapas do ciclo de vida dos produtos.

Quais as diferenças entre as modas sustentável e consciente?

Quanto ao papel dos consumidores na promoção da moda sustentável, outro termo também está ganhando notoriedade: moda consciente. Ele se refere ao modo de agir dos usuários quanto ao incentivo às práticas de mercado ambientalmente corretas.

Trata-se de uma alternativa ao consumo exagerado, comum nos dias de hoje. Segundo essa corrente, antes de comprar uma peça, deve-se perguntar se é realmente necessária, se é possível aproveitar uma que você já tem, se a produção foi social e ecologicamente correta, e assim por diante.

Isso significa que a moda sustentável e consciente se complementam. A primeira está no centro da produção guiada pela sustentabilidade enquanto a segunda propõe nova mentalidade com base nas relações de consumo.

Exemplos de práticas sustentáveis na indústria e no consumo da moda

Os benefícios da moda sustentável são promovidos em um movimento conhecido como slow fashion, que surgiu em resposta ao atual modelo. Hoje a moda rápida é focada na produção em larga escala voltada à venda de peças mais baratas e ao uso e descarte a curto prazo. Em resposta a esse padrão, procura-se um consumo mais consciente, que começa na própria indústria.

A ideia é pautar a produção nas práticas de economia circular. Isso significa que todo o ciclo de vida das mercadorias é direcionado à promoção de práticas sustentáveis, desde a obtenção da matéria-prima até o design e a confecção.

Veja alternativas que já podem ser adotadas:

Esses são exemplos de práticas já adotadas por empreendedores do setor para estreitar a relação entre indústria da moda e sustentabilidade. Contudo, os consumidores são decisivos para que essas alternativas sejam mais difundidas.

A mudança do lado de quem consome também é urgente

Os consumidores também têm papel central no incentivo às transformações da indústria. Os compradores beneficiam a diminuição dos impactos por meio da busca pelo slow fashion.

Em geral, itens de vestuário fast fashion são usados menos de cinco vezes. Além disso, geram emissões de carbono 400% maiores do que as peças slow. Essas, por sua vez, tendem a ser utilizadas, aproximadamente, 50 vezes, segundo dados da Forbes.

Já um relatório da Ellen MacArthur Foundation destaca que, além do carbono, há a questão dos descartes. Por causa do ciclo de vida curto das coleções fast, 25% de tudo o que é produzido vira lixo. E nada, praticamente, é reaproveitado.

O fast fashion prioriza tecidos sintéticos, que levam até 300 anos para se decompor. Além disso, materiais como poliéster e nylon liberam partículas de plástico nas lavagens, contribuindo com 35% de todo o microplástico marinho, segundo o The Green Post.

Qual é o papel dos consumidores na promoção da moda sustentável?

Já deu para entender a importância da moda sustentável à saúde do planeta, não é mesmo? Mas a implementação só é possível se houver estímulo do mercado às indústrias.

É justamente nesse ponto que entra a promoção da moda consciente, incentivada por meio de práticas, como:

  • Priorização de peças duráveis: roupas que não se desgastam com facilidade não são descartadas tão rapidamente. Isto é, a vida útil é maior com o consumidor ou para reusar em doações ou brechós.
  • Valorização da produção local: o empreendedorismo de moda artesanal ou em menor escala gera danos ambientais significativamente menores em relação às grandes indústrias e não adota práticas de exploração de mão de obra.
  • Atenção à origem dos produtos: a moda sustentáveldepende de consumo consciente. Por isso, é importante priorizar as marcas que deixam claro a matéria-prima utilizada, o processo de produção da peça e o modelo de mão de obra adotado.
  • Eliminação dos tecidos sintéticos: o ideal é não utilizar peças com microfibras. Alternativas que se decompõem mais rápido e não poluem os oceanos são o algodão orgânico e os insumos com certificação GOTS (padrão mundial de moda sustentável).
  • Cuidar da organização do guarda-roupas: em vez de comprar novas peças frequentemente, vale a pena dar atenção ao seu acervo, organizar o que ainda é possível usar, ser doado ou direcionado ao brechó. Isso minimiza o desuso, aumenta o ciclo de vida das roupas e otimiza a sua utilização por períodos maiores.

A ascensão dos brechós como alternativa a fast fashion

Há boas perspectivas para o futuro, pois a moda sustentável e o slow fashion são dois conceitos em alta e estão se popularizando cada vez mais.

Um dos principais canais de promoção dos seus valores atualmente são os brechós. Por meio de lojas físicas ou plataformas virtuais, eles facilitam o acesso a peças usadas de qualidade. Como o fast fashion, pois também têm preço acessível, mas o ciclo de vida é muito maior.

Um levantamento realizado pelo Sebrae, com base em dados da Receita Federal, aponta que houve aumento de 48,58% na abertura de lojas de produtos de segunda mão nos primeiros semestres de 2020 e 2021.

De acordo com a entidade, essa tendência é motivada pelo aumento das preocupações com o meio ambiente. Ao mesmo tempo, a pandemia fez as pessoas elevarem o controle sobre os seus bens e as suas finanças, dando mais atenção às peças usadas.

O papel da Geração Z

Outro ponto favorável à sustentabilidade é a ascensão da Geração Z. As pessoas nascidas entre a segunda metade dos anos 1990 e o início de 2010 são mais sensíveis aos temas sociais e de preservação ambiental.

Conscientes da necessidade de repensar o consumismo, esses indivíduos compram mais em brechós, trocam roupas entre si, estão atentos à origem das peças e adotam outros esforços para ser mais sustentáveis.

Não é por acaso que sites e aplicativos de compra e venda de peças de segunda mão fazem sucesso em todo o mundo. São espaços virtuais em que essa busca por novas experiências de consumo se reflete em pequenos negócios e consumidores interessados em rever comportamentos.

O mais importante é que, além de representar o futuro do mercado, esses jovens influenciam as gerações anteriores. Cada vez mais, os pais da Geração Z e avós boomers consideram a possibilidade de comprar em brechós.

Nesse sentido, uma pesquisa feita pela Forbes em parceria com o Baker Retailing Center sugere que as compras de vestuário no mercado secundário aumentaram aproximadamente 30% por geração, desde 2019.

Apenas metade dos baby boomers haviam comprado em brechós até 2019, nos Estados Unidos. Evidenciando as influências da Geração Z atualmente, esse número já saltou para 81%.

Considerando as tendências observadas na maior economia do planeta, as perspectivas para os próximos anos, em escala internacional, são muito boas. Você já está repensando o seu relacionamento com o guarda-roupas?

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