
Por Vicente Lo Duca, CGA, CFP®, Especialista em Estratégia de Alocação do BB
O mês de janeiro foi marcado por movimentos opostos entre os ativos de risco globais e locais. Enquanto no exterior as bolsas performaram no campo negativo, como o S&P 500 em -5,26% e o MSCI ACWI em -4,98%, no Brasil, o Ibovespa fechou o mês aos 112.143 pontos, representando uma forte alta, de 6,98%.
Vamos explicar o porquê.
No cenário externo, apontamos três grandes fatores de impacto.
Primeiramente, no campo positivo, a variante Ômicron da covid-19 se mostrou mais branda que as anteriores, o que trouxe otimismo e ofereceu subsídios aos governos para manterem a economia em certo grau de normalidade de funcionamento.
Em segundo lugar, no campo negativo, há um risco geopolítico entre Rússia e Ucrânia, que aumenta a aversão ao risco dos mercados globais.
Por último, de forma mais estrutural, há uma crescente preocupação quanto à inflação americana e, ao mesmo tempo, a interpretação de que a economia dos EUA se encontra em pleno emprego, o que em conjunto basearam o tom do FED (o Banco Central americano) no comunicado após a última reunião do FOMC (o Copom americano).
Essa postura mais hawkish aumentou a expectativa do mercado quanto a um aperto monetário mais duro, prolongando o tempo de duração e a magnitude do próximo ciclo de alta de juros nos EUA.
Naturalmente, um aumento na taxa de juros diminui, em certa medida, o apetite a ativos de risco, impactando mais fortemente empresas de crescimento – ou growth, em inglês. Um exemplo são as empresas do setor de tecnologia, que possuem grande representatividade no principal índice acionário americano.
Esse impacto nas empresas de tecnologia acelerou o processo de rotação das alocações para empresas value, ou de valor, cujo foco é a maior geração de caixa no curto prazo. Essa rotação beneficia setores mais tradicionais, como o financeiro e o de commodities, e, consequentemente, as bolsas que possuem maior concentração desse tipo de empresas.
Assim, na esteira dos acontecimentos no exterior, tivemos na bolsa brasileira um importante fluxo de entrada de recursos estrangeiros na ordem de R$ 32 bilhões, maior valor mensal desde novembro de 2020, o que impulsionou o índice para seu maior retorno desde dezembro daquele ano.
Dentre as principais contribuições à alta do Ibovespa, podemos destacar justamente os setores financeiros e de commodities, que juntos representaram mais de 80% da valorização da bolsa no Brasil.
Já na renda fixa local, as questões fiscais internas aumentaram a expectativa de juros futura, ocasionando a famosa abertura na curva de juros. Assim, os índices IMA-B e IRF-M fecharam o mês com retornos de -0,73% e -0,08%, respectivamente.
Diante desse cenário, todas as nossas carteiras que têm como base a diversificação entregaram retorno positivo e acima do CDI, na ordem de 0,75% na Conservadora, 0,82% na Moderada, 0,84% na Arrojada e 1,05% na Agressiva.
Em fevereiro, continuaremos monitorando as principais questões que podem trazer volatilidade aos mercados. São eles:
i) covid-19 e seus impactos na mobilidade e cadeias produtivas;
ii) as sinalizações do FED acerca do aumento da taxa básica de juros americana;
iii) as tensões geopolíticas no leste europeu;
iv) a evolução das discussões fiscais e eleitorais no Brasil.
Sobre o item ii, cabe destacar que não necessariamente um ciclo de alta na taxa de juros americana impõe retornos negativos ao S&P500. Analisando os ciclos de alta dos últimos cinquenta anos, verificamos que o retorno médio anual do índice no período é de 8%.
Diante do cenário descrito, não enxergamos, no momento, necessidade de grandes ajustes em nossa alocação estrutural. Dessa forma, optamos por fazer apenas dois movimentos:
i) diminuir alocação em prefixados, que podem ser impactados pelas questões fiscais e aumento de juros nos EUA;
ii) aumentar a exposição em multimercados, classe que é capaz de capturar ganhos em cenários de maior volatilidade.
Na visão de produtos, fizemos uma única alteração: trocamos o fundo BB Tesouro Inflação pelo BB Tesouro Inflação Curta, ficando menos expostos a variações na expectativa da inflação e dos juros futuros.
Ainda sobre produtos, gostaria de lembrar que em nossas carteiras utilizamos o fundo BB Ações Bolsas Globais Ativo, cuja alocação no exterior é composta por ativos americanos, europeus, asiáticos, emergentes, entre outros, reforçando o conceito de diversificação, não somente entre classes de ativos, mas também geográfica.
Caro investidor, assim como aconteceu com as bolsas globais e a bolsa brasileira em janeiro, muitas vezes os investimentos podem funcionar como uma gangorra. Enquanto uns caem, outros podem se beneficiar dessa queda. Por isso é que diversificação segue sendo o nome do jogo, e o segredo está na consistência.
Nós e todo o time do Banco do Brasil estamos aqui para ajudá-lo a entender cada vez mais sobre investimentos e lhe auxiliar em sua jornada de investidor. Conte conosco.
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