No começo do ano, Neymar virou notícia por ter trocado a sua foto de perfil de uma rede social por um macaco mascando chiclete. A arte digital, avaliada em US$ 517 mil ou R$ 2,7 milhões na cotação da época, faz parte de uma coleção que ficou conhecida como os NFTs de primatas. Celebridades, como Justin Bieber, Jimmy Fallon, Stephen Curry e Eminem, entraram na onda também.

O valor da imagem enquanto arte é subjetivo, claro, e depende do tamanho do bolso (e do apetite) do comprador. Mas as tecnologias por trás desta história – os NFTs e a blockchain que os possibilita – representam uma enorme evolução no mundo digital. E vieram para ficar.

Antes de explicar o impacto dos NFTs e da blockchain no dia a dia, é necessário dar um passo para trás e descrever, em termos simples, o que são essas tecnologias..

O que são NFTs

Se você fizer uma busca rápida no Google, descobrirá que NFT significa token não fungível na sigla em inglês, o que por si só não explica muito. Então, melhor ir por partes.

Um token é um certificado digital de propriedade registrado via blockchain (calma que você vai entender tudo). E em economês, fungível significa ser facilmente intercambiável.

Ou seja, se duas coisas podem ser trocadas, são fungíveis.

O exemplo mais clássico é o dinheiro. Você pode substituir uma nota de R$ 10 por duas de R$ 5. Toda nota de R$ 5 tem o mesmo valor em qualquer situação – mesmo que o estado de conservação esteja diferente ou uma tenha sido emitida em 1996 e outra em 2020. E, se você emprestar R$ 50 de um amigo, não precisará devolver exatamente a mesma nota. Dinheiro é dinheiro, certo?       

Agora imagine dois livros do Harry Potter. Ambos têm a mesma capa e a mesma história, mas um deles é uma primeira edição assinada pela autora, J.K. Rowling. Você não toparia simplesmente trocá-los, então eles são não fungíveis.

Em linhas gerais, uma coisa não fungível é única e insubstituível por outra da mesma espécie. Obras de arte são bens não fungíveis por definição, já que um artista é incapaz de produzir dois quadros exatamente iguais.

Os avatares de macacos entediados da Bored Ape Yacht Club (BAYC) do início do texto se encaixam aqui. São desenhos gerados por um algoritmo que combina 170 características de maneira aleatória (cores, roupas, expressões e acessórios). Comprar uma dessas imagens representa entrar para um seleto grupo de proprietários, isso explica o seu valor em termos de raridade ou escassez.  

Mas confere-se certificados de propriedade únicos (que não podem ser substituídos, divididos ou compartilhados) também a coisas mais próximas do dia a dia. E um bom exemplo é a escritura de um imóvel, garantia de que alguém é o dono legítimo de um terreno ou um apartamento.

O que é e como funciona a blockchain?

Um NFT é representação de um ativo real no universo das blockchains (cadeias de blocos), consideradas por muitos como a inovação tecnológica mais importante desde a internet.

A primeira blockchain viabilizou o bitcoin em 2009, mas a sua aplicação vai muito além disso. De maneira simples, essa tecnologia cria uma espécie de livro de registro online auditado por milhares de usuários do mundo. Isso, em tese, garante a fidelidade e a segurança dos dados.

Esse fator gera a confiança necessária para que duas ou mais pessoas, empresas ou computadores troquem valor em ambientes digitais. Equivalente a uma transação monetária, informação ou outra troca de ativos, sem intermediário.

Toda blockchain armazena dados em blocos que são encadeados por meio de criptografia (daí o nome). As novas informações recebidas são estruturadas em novos blocos que, cheios, são linkados aos blocos anteriores de maneira irreversível e em ordem cronológica. Isso significa que todas as transações são gravadas permanentemente e podem ser verificadas por qualquer pessoa.

Em bom português, é o que permite ao Neymar afirmar que o NFT de macaco comprado por ele não é um print de tela nem uma cópia pirata. Como lembra o site da criptomoeda ethereum: pesquisar no Google uma imagem do Guernica, de Picasso, não faz de você o novo proprietário da obra.

Graças à tecnologia de blockchain, o NFT pode funcionar como um certificado de que algo é original. Isso tem aplicações óbvias para a arte, música e colecionáveis esportivos.

Como os NFTs vão mudar o dia a dia

A plataforma Top Shots da NBA, liga de basquete americana, que oferece NFTs dos melhores momentos dos seus jogadores, já conta com mais de um milhão de usuários ativos. Chegou a negociar US$ 37,8 milhões em um único dia. O artista Mike Winklemann, conhecido como Beeple, é outro exemplo de sucesso. Antes estava acostumado a vender artes digitais por US$ 100, agora já comercializou NFTs por mais de US$ 69 milhões.

Notícias assim fazem parecer que essas tecnologias não são muito úteis para a maioria das pessoas. O ponto chave é lembrar que os NFTs são uma espécie de selo de propriedade gerador da confiança essencial em transações sem intermediários. 

Traduzindo: a tecnologia tem potencial para destravar burocracias da economia real, como do setor imobiliário, bancário e varejista. Isso reduz desperdício de tempo e evita custos desnecessários.

Transformar a escritura de um imóvel em um NFT pode eliminar uma série de questões de ordem prática. Pense na quantidade de vias de contrato, registros em cartório, reconhecimentos de firma e impostos envolvida na negociação de um apartamento.

Tudo isso poderá ser substituído por um contrato inteligente, ligado a um sistema que administra taxas, cobranças e pagamentos, reduzindo o risco de inadimplência e de erro humano no processo.

Outra inovação interessante e já existente: o NFT que representa um imóvel pode ser fracionado em subtokens comercializados na blockchain. Isso eleva o número potencial de compradores e a liquidez dos imóveis, ou seja, a capacidade de transformá-los em dinheiro na mão do vendedor.

Pense agora no fornecedor da cadeia do varejo. Com uma garantia de pagamento do comprador final tokenizada, é possível criar mecanismos financeiros para permitir que ele repassasse de forma simples o NFT ao longo da cadeia de suprimentos. Isso retiraria a necessidade da elaboração de uma complexa rede de contratos.

Os NFTs ainda podem ser utilizados como recibos digitais garantidores da proveniência de mercadorias, prevenindo fraudes e aumentando a segurança jurídica do processo. Isso porque permite agregar informações, como conhecimentos de embarque, dados de logística e certificado de origem. 

NFTs e novos produtos financeiros

A utilização de NFTs estimula a criação de produtos financeiros inovadores e mais baratos por conta da redução do risco de fraudes. A tecnologia disponível permite que instituições financeiras realizem a liberação de empréstimos pessoais ou financiamentos imobiliários de forma simplificada e ágil por código de computador.

Isso amplia o acesso ao crédito para mais gente, sem renunciar à segurança e à confiança nas transações.

Em março, o Banco do Brasil criou o Lentes BB, um novo programa para experimentar tecnologias digitais em ascensão em novos modelos de negócios.

O primeiro laboratório do programa será voltado justamente à blockchain. A ideia é que o BB use a tecnologia para imaginar e testar novos produtos digitais com o apoio de parceiros. Oportunidade às startups, universidades e outras instituições especializadas nos temas e nas tecnologias abordadas.

Outros tópicos que vêm por aí são: 5G, agronegócios, internet das coisas e inteligência artificial.

Quer saber mais sobre como o BB se prepara para essas novas tecnologias? Veja como o banco está no Metaverso e confira as tendências neste segmento.

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